Reevolução
A cruz do presente,
a luta latente,
a hora plantada
brotando na noite,
crescendo no dia.
Nascendo, brotando,
crescendo e se impondo.
Resposta pra tudo.
Resposta no medo
e na morte. Resposta
ao soluço calado
de medo. Resposta
ao murmúrio tão baixo
cravado na noite.
Que o sol é gelado
se falta trabalho;
que a noite é sem rumo
se falta mulher;
e a luta é mofina
se falta o comando
rompante, num grito
que irrompa na praça.
Se o risco é tremendo,
se a voz fica presa
na porta da boca;
se o fim é incerto,
se a ordem não chega,
se fico abrigado
detrás da coluna,
a cruz do presente,
a luta latente
não vinga, fenece.
O couro endurece
afeito ao martírio;
encolhe o estômago
de tanto vazio;
retrai coração,
resseca a garganta
e muda perdura.
Não grita. Recalca.
Se o brilho desmaia
no fundo dos olhos;
se o ódio emudece
à força do medo;
se a perna bambeia
por falta de impulso;
se a mente vacila
na ausência de ideias;
se a simples pancada
consegue conter;
a cruz do presente,
a luz esmagada,
será por mais tempo
um osso encalhado
em nossa consciência.
São Paulo, 1968
Índice Poema Índice Geral