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Marcos Resende Poemas

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Drama

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A família, sorrindo, caminhava
descalça, carregando um pequeno ataúde
sobre o solo nordestino.

As enchentes vieram,
O nordestino perdeu tudo.
A seca chegou,
o nordestino fugiu.
O gado morreu;
o nordestino passou fome.
O solo secou,
a peste surgiu.
e o filho faleceu levado pela Providência.

E o nordestino chorou lágrimas secas
por seus filhos,
que se iam,
tragados pelo mar de poeira árida.

Seu coração gemeu.
Porém, seu pedido de socorro misturou-se
com o uivar do rodamoinho de pó,
levantado pelo Simum da Demagogia.

E os irmãos, não ouvindo seu lamento,
cuidaram de seus próprios problemas.
Os governantes continuaram abrindo estradas,
o progresso caminhava aproveitando a ajuda
negada ao Nordeste, que se extinguia em pestes.

A família,
com a sensibilidade secada pela ausência de compreensão,
ia sepultar o mártir do abandono.

As crianças sorriam.
Os mais velhos falavam.
E caminhavam unidos para o desespero.


São Paulo, 1965

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    Marcos Resende