Filho Homem
Mulher,
eu profeta dou-te a conhecer
o futuro de teu filho homem:
no dia tal, à hora tal, ele terá que abandonar a casa.
É criança de colo ainda.
Vai crescer como cresce a palmeira do deserto.
Será bom filho? Mau será?
Não lhe importam tantas conjeturas: partirá no dia e hora pré-determinados.
No primeiro dia, não virá jantar,
virá dormir mais tarde.
No segundo, perguntará por perguntar,
de algum parente morto.
No terceiro, ficará cismando,
até que pegue as coisas, vá e nao regresse.
Nesta hora, então,
não lhe peças mais que te apanhe o xale que caiu no chão.
Tu chorarás aos gritos e soluços?
Concordarás de pronto? Irás até a porta?
Aprontarás comida?
Uma atitude ou outra em nada influirá: ele parte.
Teu "sim" ou "não me deixes" soarão inúteis.
Não sei porque te aviso coisas do futuro, mulher,
e ainda, outra vez mais, aviso-te outra vez:
faze o que quiseres de teu filho homem,
mas chegarão a hora e o minuto exatos: ele partirá.
Varginha, 1971