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Marcos Resende Poemas

Marcos Resende Poemas

Hoje, Sim: Prisma Quase-Caleidoscópio

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Oreste, pensando bem, você tem cara de sino.
Oreste ― alma de sino ―
Belelém-dlin-dlon:
um sino de planície
chamando ― alma de sino ― a increntes de montanha.


Oreste sempre crendo
no minuto seguinte d'êxtase",
"ordeiro, reto, justo e generoso sois".
Cara de sino.

Oreste a noroeste.
Nororeste a oeste
Leste, deste
lenta suavidade ao sonho,
ao agonizante esquema,
ao roto sistemalismo ancião.
Ancião mesmo.

Alma de garoto.
Vento ventando na dimensão do sonho
e tirando ramelas dos olhos da manhã.

Buscar um mundo.
Oreste buscas um mundo.
Oreste, que tambor aciona o teu cansaço?
Alma de gato-miau & tal em sete esperas.

Foi de manhã o ocaso, por acaso, de meu choro
e do meu inverno.
E, de teu inverno (como Kafka)
erigiste a plataforma.

Encontro de almas anciãs:
Oreste Maurizio e Marcos Resende.
Podia e deve só rimar com:
teu coração de criança entende.
Mas hoje a tua messe é farta, consola-te,
e alta inclui a lua
um braço em tua vereda.

Gratia plena.
Fé morena.
"O inesperado fez uma surpresa".
E tua represa,
de tanta alma de leão-rompante rompeu
a barragem de tua apenas erudição.
Criação, Oreste, fez-se-te num repente
e agora, arca com tua responsabilidade.

Poesia.

Oreste,
Ore$te,
mas, principalmente, Aureste
sempre predisposto a fechar a cara
"ao engraçadíssimo abismo turbulento".

Às vezes (sempre) com ar severo, zangado;
descontente com todos, de todos ―
A cara fechada: "Heil, Hitler!"
"Wunderbar" ― "I'm Genius!".
E aquele vasto ar de descontentamento.

Bravo de araque, desembestou
no declive de poetar.
Poetaste, poetas ― lança de esperança,
tu lanças de esperança.
"Tão preciso acordar da morte em vida".

Um dia te encontrei, Oreste,
"penetrando surdamente no reino das palavras".

O público do Rio.
As velhas corocas.
Dona Alda pra cá, dona Alda pra lá...
― Uma boa parelha de coices no rabo de don'Alda!
Um dia te encontrei no rio Rio.
Barolli: "Quem diria?";
Otacílio e seu bifendido cavanhaque.
Ari, sutil, cozinheiro e sempre infância,
sempre mãe. Seguro em caos de pratos sujos.

Silvinho, violão, voz, tomates cruz, pão sem manteiga,
telefone, Sônia, Glória, bocetas esperando pau.
Almas procurando amor, só amor.
Bocetas sem rapé e o Conselheiro Acácio.

Picasso ―  véu de azul.
Verão à beira-mar,
ricaços em bariloche.
Batatas, agora definitvamente com sal, perto do mar.

Mas, tu tens alma de sino
e pode nos contar de estórias de abandono.
Ainda te resta um par de olhos bons,
coração não foi arrancado, és idealista.
Pernas, pena, e toda uma sacada
para, do teu jeito, documentares a vida.
Resta-te um prisma, um ângulo só teu
e a mão direita, caneta obediente.
Delelém-dlin-dlon.

 

Não valeu a pena o choro de Maria.

Mara, há já bom tempo, se esfumou por nada.
De Vera e de Maria nem restou escrita, escuta.
Caramujo tempo o que hoje vivo agora.

Ainda sobrevive-te um pouco de cordeiro, Oreste manso.
Crença, carne e osso; depois do almoço, outra visita ao Rio.
Nem foi abraço os braços corcovados
de um Cristo que, há muito,
Maria deixou chorando.

Mas hoje, riso, Oreste ― alma-de-domingo-sino
Dém dém dém dém dém dém dém dém dém.
Peito estufado ― Argemiro.
Não e não e nunca esqueças a que foste.
Volta tua mão e cumprimenta o Cristo,
só em seu destino,
com aquele olho seco dissecando a noite.
Escuta.

São Paulo, 1969

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