Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Marcos Resende Poemas

Marcos Resende Poemas

Poema para os Olhos do Chico

Índice Poema ◦ Índice Geral

É que de repente no meio da música,

Você parou os olhos como quem é triste.

Ah, como você está triste

                                como você foi longe meu amigo com estes olhos tristes

                                como você — e só você — sabe e é capaz

de se embrenhar nos intransponíveis labirintos da amargura.
 

Ah, Chico,

Poeta de uma desvairada cavalgada em pelo no lombo da tristeza

tempestuoso sátiro — impenitente onírico,

comparsa silencioso (?) de uma solidão sem saída (?)
 

Ah, Chico,

de vez em quando portas te acenam (há aqui, ali...)

É quando você mais se emaranha

nos perigosos rochedos submersos de uma insidiosa solidão.
 

E porque você pode manipular como ninguém

os tentáculos da pilhéria e do lirismo,

mais você se perde com esses olhos puros

num pântano perplexo, planeta movediço.
 

E se você, agora, fita (olhar parado)

Os poros de um espaço próximo e imperscrutável

— que nem você explica em seu ensimesmismo —

pressinto que você devora os números da roleta

como quem não conhece a artimanha dos relógios

e se debate na longa travessia dos náufragos sem culpa

e se confunde como quem duvida dos espelhos e das cartomantes

na captura inútil de um rodamoinho.
 

E tudo porque durante um de repente

você parou a música no meio de seus olhos

e tudo porque você é triste de repente

e parou os olhos perto de um amigo.
 

(Este poema vigia o seu olhar de laser-cicatriz,

até que você volte e se rechique

e se rechiquedeassis.)

 São Paulo, Bar do Elias, 1982

Índice Poema ◦ Índice Geral

Poemas

  •  
  • Pesquisar

     

    Marcos Resende