Poema para os Olhos do Chico
É que de repente no meio da música,
Você parou os olhos como quem é triste.
Ah, como você está triste
como você foi longe meu amigo com estes olhos tristes
como você — e só você — sabe e é capaz
de se embrenhar nos intransponíveis labirintos da amargura.
Ah, Chico,
Poeta de uma desvairada cavalgada em pelo no lombo da tristeza
tempestuoso sátiro — impenitente onírico,
comparsa silencioso (?) de uma solidão sem saída (?)
Ah, Chico,
de vez em quando portas te acenam (há aqui, ali...)
É quando você mais se emaranha
nos perigosos rochedos submersos de uma insidiosa solidão.
E porque você pode manipular como ninguém
os tentáculos da pilhéria e do lirismo,
mais você se perde com esses olhos puros
num pântano perplexo, planeta movediço.
E se você, agora, fita (olhar parado)
Os poros de um espaço próximo e imperscrutável
— que nem você explica em seu ensimesmismo —
pressinto que você devora os números da roleta
como quem não conhece a artimanha dos relógios
e se debate na longa travessia dos náufragos sem culpa
e se confunde como quem duvida dos espelhos e das cartomantes
na captura inútil de um rodamoinho.
E tudo porque durante um de repente
você parou a música no meio de seus olhos
e tudo porque você é triste de repente
e parou os olhos perto de um amigo.
(Este poema vigia o seu olhar de laser-cicatriz,
até que você volte e se rechique
e se rechiquedeassis.)
São Paulo, Bar do Elias, 1982
Índice Poema ◦ Índice Geral