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Marcos Resende Poemas

Marcos Resende Poemas

Primeiro Canto de Abandono Num Crepúsculo de Sábado

Pintura Mulher 034.jpg

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Quanto ensaio espreita espaço
antes do instante do abraço.
Quantas bocas perguntando
respostas que o olhar conhece.
Quantas mãos sondando o laço,
quantos passos calculados,
quantos preparos tramados,
quanto canto de sereia.

E ela chegou tão linda.
Quanto pranto e tempestade,
quanto nervoso no peito,
quanto pente no cabelo,
quantas olhadas no espelho,
quantas sínteses e cálculos,
quantas somas e análises,
quantos sins sincronizados,
quanto mistério nas cores.

E ela chegou tão linda.
Quantas dores de ansiedade,
quantos amores guardados
nas flores de seu vestido.
Quantas fés tentando escuta,
quantos pés buscando dança,
quanta confiança contida,
quanta mágica escondida
no colorido das flores
das cores de seu vestido.
Quanta luz quebrando noite
brotando do olhar escuro.
Quanto medo azul no peito,
quanta tremura no braço,
quanta evasiva de assuntos,
quantos nãos mentindo a boca,
quantos sins florindo juntos
sentidos e consentidos,
quanto olhar intencionado
minado do seu olhar.

(Enquanto o sol derretia
as resistências do dia,
ficava à vontade a boca
fazendo-se compreendida.)

E ela ficou comigo
calçando sapatos altos,
vestindo vestido rosa
quase-mostrando seu corpo.
Como falava sua alma
de histórias de solidão.
Como ansiava seu corpo
o apoio de outro corpo.
Quantas conversas de pontes
sabia aquela memória.
Quanto encontro merecido
por uma espera vivida
cabia naquela mão.

(Nem me perguntem do sol
que na morte de outro dia
paria agonia em cor.)

Num crepúsculo de sábado,
respirando o mesmo vento,
vivendo do mesmo intento,
calculei-a tão chegada.
Podia saber-me amado
Por um amor sem segredos,
podia sentir nos dedos
a pulsação de seus lábios.
Podia saber de tudo
que fincava em minha vida
a vinda daquela vida
somando-se em nova rua
aos rumos de minha estrada.

Num crepúsculo de sábado
Arrisquei-me em nova busca.

São Paulo Abril 1969

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