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Marcos Resende Poemas

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Terno e Gravata

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Chegou vestido de gala.

Todos na sala ficaram desconcertados.
Por que a gravata?
Não era sábado
não havia baile
não havia festa enterro ou casamento.
E ele chegou em gala numa quarta-feira.

Não há coisa alguma que justifique um terno ― 
ele explicou.
E nada também que não o justifique.

Olhares.
Todos na sala pararam desorientados.

Ele, por exemplo, poderia ter dito:
― Vesti-me para o enterro; o meu!
― Ave, amici! O defunto vos saúda!
― Vesti-me para o meu velório
                                nosso velório
Sem gala vela ou ataúde
que o justifiquem.

Aos sábados, costuma-se vestir de gala o tédio da semana.
Há bailes, aos sábados.
Toma-se cerveja, aos sábados,
e come-se macarronada aos domingos.

Às vinte horas do sétimo dia, os homens se vestem bem
por controle remoto, reação em cadeia ou hábito.
Costumam sorrir
são mais polidos
sociáveis românticos enamorados.
As mulheres estão mais receptivas e famintas.

Bebe-se mais aos sábados
come-se mais aos sábados
fuma-se mais aos sábados.
Sem justificativa.

Mas, ele chegou vestido de gala numa quarta-feira,
que não era sábado,
e não havia a perspectiva de macarronada,
nem do domingo.

Todos olharam.
Alguns perguntaram o terno.
Outros, se lembraram de Vinícius e do seu sábado,
sem nenhuma resignação.

O cidadão sorriu
olhou para o teto
enfiou o dedo no nariz
cuspiu no chão
olhou os amigos displicentemente
e mandou todo mundo à merda.

Varginha, 1967

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