Testamento: Karisme com Biquinho de Choro
Eu vou morrer, Karisme.
Amarre tudo em seu pescoço,
e passe por mim.
Estou passando com as águas e o moinho,
aguente: vou passar.
É uma roda: rode,
não acuda.
Eu sou eu,
aconteci,
teci meu abandono no bojo de teu sangue,
ensanguentei teus plenilúnios,
alucinei teu sono,
mas eu vou, é vela:
revela, vale, eu vôo.
Nasci numa montanha
e foi tudo instinto.
Cobri minha nudez da palha do palmito.
É isso: enrodilhei teu corpo numa cordilheira
e te consumi.
Agora, vem me consolar,
que é hora de consolo.
Vem pousar teu medo:
não vacile.
Eu vou:
tranquilo transe intruso.
Transito: vou.
Eu mato: entenda.
Mate: eu vou.
27 abril 1973